Suas informações estão no lugar errado e eu posso te explicar o porquê…

Afinal de contas, seus dados na internet não deveriam estar sob sua guarda? Enquanto você inicia a leitura das primeiras linhas do primeiro parágrafo desse artigo, muito está sendo discutido nas rodas digitais de conversa a respeito desse tema. Muitos dos dados a seu respeito estão espalhados desastrosamente por toda a internet. Dados repetidos, inconsistentes, desatualizados, distribuídos em sites, aplicativos, em diversos lugares.

A quantidade de informação produzida no mundo inteiro, em formato digital, seja por aplicativos, seja por ações do mundo real como uma compra, um exame, uma emissão de documentos, qualquer coisa hoje praticamente sai do mundo real e vai pro mundo digital.

E é muito comum que as pessoas entrem em sites e acabem digitando informações como nome, endereço de email, telefone, endereço residencial, data de nascimento, dados pessoais que normalmente são guardados nas bases de dados desses sites.

São muitos dados pessoais que estão sendo informados, repetidamente, em diversos lugares.

Você já se deparou com uma situação de ter que atualizar, por exemplo, seu endereço residencial ou seu número de telefone em diversos lugares e sites diferentes porque estavam desatualizados?

“Se toda informação sobre um indivíduo estivesse sob posse do indivíduo”, a internet como a conhecemos hoje seria muito, mas muito diferente. Todo dado produzido sobre você não deveria ser de sua propriedade?

Há um projeto denominado SOLID, que trata exatamente desse tema. Ele foi criado por Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web. Este projeto visa colocar na mão do indivíduo, todas as informações pessoais e tudo o que é produzido a seu respeito, como se existisse um pen drive virtual e pessoal, com todas essas informações reunidas.

Logo, se toda informação produzida e associada a um indivíduo, estivesse de posse desse indivíduo, toda a internet que conhecemos seria muito, mas muito diferente.

Um exemplo simples, mas muito corriqueiro em nossas vidas: com a popularização dos celulares e também com o avanço exponencial da tecnologia nos últimos anos, fotos e vídeos são algo que fazem parte do nosso dia-a-dia. Nós registramos tudo: nosso café da manhã, o filho indo pra escola, o passeio com o cãozinho, o ônibus lotado, o nascer do sol, tudo é registrado diariamente em nossas redes sociais.

Agora imagine que, ao invés de pegar esse material, fotos e vídeos que produzimos durante o nosso dia e colocarmos tudo isso em uma rede social específica, porque não deixarmos em um espaço na nuvem totalmente administrado por nós?

E se as redes sociais, ao invés de guardarem todo o material que produzimos na internet, apenas solicitassem acesso a esse lugar só nosso? Você entra no Facebook, cria sua conta e o Facebook pede acesso às suas fotos e vídeos (lá naquele lugar que é só seu). E aí, o Facebook com acesso a esse material, criaria os álbuns de fotos e vídeos no formato em que foi desenhado, sua interface, cores e suas próprias interações.

Agora imagine que você também gosta do Twitter. E aí você entra no Twitter, cria sua conta e ele também solicita acesso aos seus álbuns de fotos e vídeos e a mágica está feita. O Twitter também exibiria em sua timeline, em seu perfil de usuário, suas fotos e vídeos, também usando sua interface, cores, design e interações.

E assim a coisa iria acontecendo. Qualquer outra rede social que trabalhe com fotos e vídeos solicitaria acesso aos seus dados e mostraria seus conteúdos de forma automática. E cada nova foto guardada ou novo vídeo guardado em seu espaço de dados, seriam automaticamente mostrados nas redes sociais que têm acesso a elas.

Algumas regras de privacidade definiriam o que pode e o que não pode ser acessado. Determinados conteúdos, fotos e vídeos, poderiam ter uma regra específica e não serem públicos, ou seja, não estariam acessíveis a nenhuma plataforma ou aplicativo externo. Não só fotos e vídeos, mas todo e qualquer dado que nós não quiséssemos deixar como público, bastando para isso deixá-lo como privado e pronto. Só você teria acesso através de sua conta.

Eu falei de fotos e vídeos, mas toda informação produzida por você em seu dia-a-dia poderia estar disponível, através de solicitações de plataformas.

Outro exemplo prático seria a marca de cerveja ou refrigerante que você compra no mercado no fim de semana para consumir em casa. Digamos que você goste da marca X de cerveja ou da marca Y de refrigerante. A compra desses e de outros tipos de produtos poderia estar em sua base de dados. E sabe porque? Pra que você, ao adentrar em um outro estabelecimento qualquer, possa receber ofertas e promoções baseado nos seus hábitos de consumo.

Outro exemplo seria toda e qualquer informação do meu prontuário médico deveria estar sob minha posse e acessível para quem eu desse acesso às informações. Quando um indivíduo está prestes a fazer um exame médico, a clínica pode solicitar acesso ao seu prontuário médico e todo o histórico de exames médicos, de cirurgias, de consultas, estaria tudo ali, disponível. Quando não fosse mais necessário o acesso a estes dados, bastaria uma revogação desse acesso e pronto.

Mais um exemplo? Imagine criar playlists de suas músicas preferidas e guardá-las em seu espaço pessoal de dados. Você então criaria sua conta no Spotify, ele solicitaria acesso às suas playlists e pronto: suas músicas preferidas sendo tocadas no Spotify! Mas digamos que o Spotify comece a ficar desconfortável, com propaganda excessiva e um novo player surge no mercado, com serviço semelhante ao do Spotify, só que sem propaganda alguma e totalmente gratuito.

Bastaria a criação de uma conta nesse novo serviço, dar acesso às suas playlists da sua base de dados e a mágica aconteceria: você ouvindo suas músicas preferidas em outro serviço de streaming, automaticamente, sem precisar ter que criar tudo de novo do zero!

E quando esse serviço não for mais interessante, não atender mais às suas necessidades, não te oferecer uma experiência bacana, você parte pra outro e tuas playlists estão todas no novo serviço também! Au-to-ma-ti-ca-men-te!

Só de imaginar que as pessoas precisariam apenas de um lugar, um lugar para alterar seus dados pessoais, como telefone, por exemplo, e todos os lugares que solicitaram acesso a essa informação já estariam automaticamente atualizados, isso é confortador!

O mesmo eu posso dizer com outros tipos de dados, como endereço, data de aniversário, email e até mesmo dados profissionais, como emprego atual, qualificações, formações, tudo isso de forma organizada e disponível a quem se interessar.

É como se fosse uma tomada. As empresas e suas aplicações se conectaria aos dados das pessoas. E assim que um dado é atualizado, uma notificação automática é enviada e cada empresa trabalha da forma que for necessária para mostrar essa nova informação em uma timeline, ou através de notificações, seja lá qual for a maneira.

A informação do indivíduo sob posse do indivíduo. Isso seria incrível. Tanta informação dos indivíduos não estariam concentradas nas mãos de uma, duas ou três plataformas no mundo (como acontece hoje em dia, né?). Com essas informações disponíveis para qualquer aplicação, muita coisa iria mudar nessa internet que conhecemos hoje.